segunda-feira, 7 de novembro de 2011

Esse estranho chamado DESIGNER

Por Paulo Magosso

O Blog da Code não tem o perfil de ser um fórum de discussões... o objetivo principal é divulgar nosso trabalho de comunicação e design, que fazemos há mais de 13 anos. Mas, como profissional que atua nesta área há 23 anos, senti vontade de expressar minha opinião e meu ponto de vista sobre o "designer"... Como que uma auto-análise.

Dia 5 de novembro foi comemorado o Dia Nacional do Designer, instituído através de um decreto, assinado em 1998, pelo então Presidente Fernando Henrique Cardoso... 

Aí eu pensei: ESTRANHO, como pode uma profissão, que ainda não é regulamentada, possuir uma data comemorativa?

Pois é, assim é o designer, um estranho para a maioria das pessoas mas que, ao mesmo tempo, está presente em quase tudo que utilizamos em nosso dia-a-dia, de cédulas de dinheiro à placas de trânsito, apenas para citar alguns exemplos simples.

Mas minha intenção não é ficar explicando o que faz ou deixa de fazer um designer, para isso existem diversos textos e vídeos bem esclarecedores na web.

O que me fez escrever sobre o tema foi o fato de perceber que o 'designer' é um cara capaz de criar e desenvolver a identidade corporativa de grandes instituições, mas não é capaz de definir sua própria identidade como profissional! E isso é fato, não uma sensação pessoal.

Ele cria projetos de sinalização que ajudam na comunicação visual e organização ambiental de um mega Shopping Center, por exemplo, mas não consegue encontrar um pen drive em sua mesa sempre bagunçada... É um sujeito estranho, sem dúvida!

Lembro que, quando me interessei pelo 'design' ainda era 'desenho' e tudo parecia mais simples, óbvio: "O que você faz?" "Sou um desenhista" ...e ponto. E tinha orgulho de dizer isso! Estudei em uma escola (ETEC Carlos de Campos) que foi fundamental nessa minha formação em Desenho de Comunicação e que considero ser a profissão mais antiga do mundo - Os homens das cavernas já criavam ícones e pictogramas para se comunicarem e fazerem seus registros. Também já desenvolviam ferramentas e utensílios funcionais, que hoje chamamos 'design de produto'.

Hoje um 'designer' precisa literalmente desenhar para explicar sua função, é estranho... Sem dizer que a palavra 'design' tem sido usada  sem o menor critério e de forma pedante - de salão de beleza à vidraçaria!

Então comecei a comparar com outros profissionais... A maioria das atividades profissionais exercem a mesma função por décadas, sem sofrerem grandes mudanças funcionais ou de costumes... Explico: o médico exerce a mesma função, mesmo com toda evolução tecnológica, e continua sendo médico, não 'doctor'. O jornalista, o fotógrafo, o advogado, todos atravessam décadas exercendo suas funções da mesma forma, mudando apenas o meio.

Com o designer houve uma quebra de paradigma (palavra muito utilizada pelos próprios) em meados de 1990. Antes disso os desenhistas trabalhavam sem computador, sem photoshop e sem tablets. Havia o past-up, o lay-out era feito a mão, com Letraset, fotocomposição, cola benzina... mixilim!!! (eu tinha um do tamanho de uma laranja e quase chorei quando perdi). Nesta época as imagens eram tratadas com aerógrafo de verdade, nanquin, raspagem em fotolitos, retoques americanos, esquadros, réguas paralelas... As fontes eram escolhidas em catálogos enormes... Havia tipografia, clichê, etc... O fim era o mesmo, mas era diferente, não chamava 'design'... então parece que não existiu ou que era outra função... Há uma barreira  para quem ingressa hoje no mercado, falta algo... Falta lastro!

E para você que pode estar pensando que é papo de velho, nostalgia... não, isso é história, experiência, bagagem e amor à profissão! É uma constatação: Tudo mudou de uma hora para a outra! Perdemos o referencial, perdemos nossa história e, o pior, perdemos ótimos profissionais que não acompanharam as mudanças... Profissionais criativos, experientes, mas que não se adaptaram às novas regras do mercado...

Portanto, se o que eu falei soou estranho para você que é designer, pesquise a história da sua profissão. Ser designer é muito mais do que saber usar os recursos do Photoshop, do Illustrator ou do Corel.

Essa é minha opinião.

Paulo

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